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Nos dias 30 e 31 de agosto, no Anfiteatro da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ocorreram as atividades do IX Seminário Internacional Rotas Críticas, que nesta edição abordou o tema Gênero, Criminalidade e corpos feminizados em situação de prisão, reunindo aproximadamente 150 participantes entre professores, pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação dos campos da saúde, serviço social, psicologia, sociologia e direito, além de militantes sociais dos movimentos negro, LGBTTs e de mulheres.

A abertura na manhã do dia 30, contou com a presença da Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRGS - PPGCOL, Profª. Drª. Stela Nazareth Meneghel, e da Coordenadora do Programa de Reorientação da Formação Profissional – PRÓ-SAÚDE, Profª. Drª. Miriam Thaís Guterres Dias, docentes do Departamento de Saúde Coletiva e Serviço Social, respectivamente, e organizadoras do evento.

Na fala de Stela Meneghel, foi descrito o conceito de rotas críticas e o itinerário dos oito seminários já realizados, que tematizaram diferentes aspectos das violências de gênero perpetradas contra as mulheres. Miriam Dias trouxe o tema do aprisionamento de mulheres.

A palestra de abertura foi proferida pela Profª. Drª. Montserrat Sagot, docente da Universidade da Costa Rica, tratando sobre os “Efeitos das políticas neoliberais e da necropolítica na vida das mulheres”. Monteserrat Sagot trouxe uma fala densa e crítica em que utiliza os conceitos de fascismo social e de necropolítica, ampliando o conceito formulado por Achiles Mbembe, para incluir a perspectiva de gênero. Revela os determinantes sociais da necropolítica que incide sobre as mulheres na etapa atual do capitalismo, sobretudo sobre as pobres e racializadas, práticas das quais fazem parte a ações de encarceramento.

Na tarde do dia 30 de agosto, foi apresentada a mesa de discussão acerca do tema “Mulheres e corpos feminizados, violência prisional e direitos humanos”, da qual participaram a Profª. Dra. Carmen Hein Campos, docente do Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis e o Prof. Dr. Dani Rudnicki, também docente do PPGDIR/UNIRITTER, o qual apresentou dados e informações de pesquisa desenvolvidas em casas prisionais do Rio Grande do Sul, apontando vulnerabilidades na população carcerária e também nos servidores públicos que atuam nestes locais.

Carmen Hein Campos apresentou dados estatísticos acerca da frequência e condições do encarceramento feminino no Brasil, discutindo o estupro como instrumento de controle de corpos femininos e feminizados. A mesa teve a mediação da Profa. Dra. Rita Maciazeki, professora da Universidade Federal de Rio Grande - FURG.

Na manhã do dia 31, houve a apresentação de grupos de pesquisas e experiências de trabalho, momento organizado pelo Dr. Roger Ceccon (Pós-doutorando em Saúde Coletiva/UFRGS) e pela sanitarista Evirlene de Souza Fonseca (Mestra em Saúde Coletiva/UFRGS).

“Mulheres privadas de liberdade: contexto de violências e necessidades decorrentes do uso de drogas no Rio Grande do Sul” – foi a pesquisa apresentada pela Dra. Luciane Koptikke, professora de um dos mestrados profissionais desenvolvidos na Escola GHC, e membra do Grupo de Pesquisa Mulheres em Situação de Prisão.

A mestranda Gabriela Denolegrave, do PPG Enfermagem, apresentou seu projeto de pesquisa voltado ao tema da Maternidade na Prisão, incluindo excertos do filme, produzido pela FIOCRUZ, denominado Nascer na Prisão.

A seguir foi exibido o documentário “Encarceramento em Massa” – em que a blogueira JUJU entrevista três pesquisadoras e militantes do movimento negro que falam sobre o encarceramento em massa de pobres e negros que vem acontecendo no Brasil. Comentários e conversa com os e as participantes foram conduzidos pela Profª. Drª. Aline Blaya Santa Helena (Coordenadora Substituta do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRGS).

Na parte da tarde, foi realizada a palestra de encerramento do seminário, intitulada “Políticas de Encarceramento de Mulheres Negras no Brasil”, proferida pela pesquisadora Ms. Juliana Borges, autora do livro “O que é Encarceramento em Massa?”, editado pelo Grupo Editorial Letramento (confira entrevista da autora concedida por ocasião do evento). Esta atividade foi mediada pela Profª. Drª. Fernanda Souza de Bairros, docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Saúde Coletiva/RS; e Coordenadora Substituta do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos desta Universidade (NEAB/UFRGS).

Juliana Borges explica que os determinantes históricos e sociais, presentes no Brasil colônia e no modelo econômico de plantation sustentado pelo trabalho escravo, em que o negro era destituído de sua humanidade e considerado um objeto, deram origem à necropolítica, que persiste no Brasil “cordial e pacífico”, até o momento atual. Este violento processo de exclusão, racismo e discriminação tem como um dos efeitos as cifras elevadas e ascendentes de encarceramento da população negra.

Ao final, tivemos um momento cultural, em que Cristal Rocha e Agnes “com G mudo”, jovens negras poetisas e estudantes da Universidade, declamaram seus textos poéticos, precedendo a sessão de autógrafos da obra “O que é Encarceramento em Massa?”, da autoria de Juliana Borges.

Esta atividade de extensão foi promovida pelo Grupo de Estudos Rotas Críticas, pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRGS e pela pesquisa “Estudo sobre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no Rio Grande do Sul: avaliação e implantação”, financiada pelo Ministério da Saúde e coordenada pela Profa. Dra. Fernanda Souza de Bairros.

Registro de imagens:


Professoras Stela Meneghel e Fernanda de Bairros com a palestrante/autora Juliana Borges